Prospecção Geobotânica e indicadores minerais

O que é a Prospecção Geobotânica e os indicadores minerais
Geobotanical prospecting

A prospecção geobotânica refere-se à prospecção baseada em plantas indicadoras como metalófitas e na análise da vegetação onde são encontrados certos tipos de minerais.

O método botânico de prospecção envolvem o uso da vegetação na busca de depósitos de minério.
A técnica tem sido usada na China desde o século V aC. As pessoas da região perceberam uma conexão entre a vegetação e os minerais localizados no subsolo. Havia plantas específicas que prosperavam e indicavam áreas ricas em cobre, níquel, zinco e supostamente ouro, embora o último não tenha sido confirmado. A conexão surgiu de um interesse agrícola em relação às composições do solo. Embora o processo fosse conhecido na região chinesa desde a antiguidade, não foi escrito e estudado no Ocidente até o século 18 na Itália quando os romanos voltaram a empregar estes métodos para encontrar água e vários minerais incluindo o ouro.

Prospecção Geobotânica
Indicadores geobotânicos

 Embora esses métodos tenham sido usados ​​por vários séculos, há muita confusão sobre a terminologia porque existem dois métodos distintos de prospecção botânica.
Os métodos geobotânicos, que são visuais e dependem principalmente de uma interpretação da cobertura vegetal para detectar mudanças morfológicas ou associações de plantas típicas de certos tipos de ambientes geológicos ou de depósitos de minério dentro desses ambientes.
E os métodos biogeoquímicos (pesquise Biogeoquímica), que têm sido usados ​​apenas desde a década de 1940, e envolvem a análise química da cobertura vegetal para detectar a mineralização.

Os métodos geobotânicos ressurgiram na época romana, quando a vegetação era empregada na busca de água subterrânea. Algo com que você deve estar familiarizado como aquelas forquilhas de galho de pessegueiro ou de marmeleiro que são usados para achar água no subsolo, método ao qual se chama Hidroestesia, mas este é para outro artigo.

Mais tarde, o botânico russo Karpinsky (1841) tornou-se o primeiro homem a estudar minuciosamente a relação entre comunidades de plantas e seu substrato geológico.

A geobotânica têm sido usado ​​na localização e mapeamento de águas subterrâneas, depósitos salinos, hidrocarbonetos e tipos de rochas, bem como minérios.

Exemplos mais clássicos de Geobotânica
Alpine Catchfly (Viscaria alpina)
Imagem de Ryan Hodnett, por https://commons.wikimedia.org/

Por exemplo, a Mina Viscaria na Suécia recebeu o nome da planta Silene suecica (Viscaria alpina) que foi usada por garimpeiros para descobrir depósitos de minério.
Em geral, a Viscaria alpina (red Alpine catchfly) prospera onde outras plantas que são menos tolerantes a altas concentrações de cobre e metais pesados ​​no solo não crescem.
Tudo devido à sua capacidade de crescer em solos com grandes quantidades de cobre, assim, Silene suecica é usado como um indicador de teor de cobre na prospecção geobotânica .

Outra planta indicadora "mais fiel" é Ocimum centraliafricanum, a "planta de cobre" ou "flor de cobre" anteriormente conhecida como Becium homblei, encontrada apenas em solos contendo cobre (e níquel) no centro e sul da África.

Em 2015, Stephen E. Haggerty identificou o Pandanus candelabrum como um indicador botânico para tubos de kimberlito, a principal fonte de diamantes no mundo tornando-se um indicador potencialmente útil para a prospecção de diamantes..
Ela também é conhecida como árvore do candelabro, que é uma espécie de palmeira encontrada na África tropical, principalmente na Libéria.

Veja mais exemplos de plantas indicadoras de minerais no final deste artigo.

Pesquisa de minerais baseado nas plantas aliando a Geologia e a Botânica
A prospecção geobotânica, também conhecida como prospecção botânica ou prospecção fitogeológica, é um método de exploração mineral que envolve o uso de plantas como indicadores para localizar potenciais depósitos minerais.
Esta abordagem baseia-se no conceito de que certas espécies de plantas têm a capacidade de absorver ou acumular elementos específicos do solo, o que pode ser indicativo de mineralização subjacente.

O processo de prospecção geobotânica normalmente envolve as seguintes etapas:

Seleção da área alvo
A prospecção geobotânica começa com a identificação e seleção de uma área com potencial para jazidas minerais. Isso pode ser baseado no conhecimento geológico existente, resultados de exploração anteriores ou dados de sensoriamento remoto.

Amostragem de plantas
Botânicos ou geólogos coletam amostras de plantas da área selecionada. Essas amostras são normalmente retiradas de espécies de plantas específicas conhecidas por terem uma alta afinidade por determinados elementos de interesse, como ouro, cobre ou zinco.

Análise laboratorial
As amostras de plantas coletadas são analisadas em laboratório para determinar sua composição elementar. Essa análise pode envolver técnicas como espectroscopia de absorção atômica, espectrometria de massa de plasma acoplado indutivamente ou espectroscopia de fluorescência de raios-X (FRX).

Interpretação dos dados
Os resultados das análises laboratoriais são interpretados para identificar padrões ou anomalias na distribuição de elementos específicos. Altas concentrações de certos elementos nas plantas podem indicar a presença de depósitos minerais nas proximidades.

Exploração de acompanhamento
Se a prospecção geobotânica indicar a presença de mineralização potencial, outras atividades de exploração, como amostragem de solo, levantamentos geofísicos ou perfuração, podem ser realizadas para confirmar e avaliar as descobertas.

Prospecção Geobotônica
A prospecção geobotânica é particularmente útil em áreas com densa cobertura vegetal ou terreno desafiador, onde o mapeamento geológico tradicional e os métodos de amostragem geoquímica podem ser limitados. Ele pode fornecer informações valiosas e orientar os esforços de exploração subsequentes, potencialmente levando à descoberta de novos depósitos minerais. No entanto, é importante observar que a prospecção geobotânica é apenas uma ferramenta no amplo espectro de técnicas de exploração mineral e é frequentemente usada em combinação com outros métodos para obter resultados mais precisos.
indicadores geobotânicos
Indicadores geobotânicos

Geobotânica então é um método de prospecção suplementar e não primário.
Isto porque, tradicionalmente o uso de espécies ou conjuntos de plantas indicadoras para detectar a possível presença de depósitos ricos em metais baseia-se no princípio dos limites de tolerância, ou seja, assume que apenas espécies especializadas podem suportar solos contaminados por metais. Na prática, a resposta da planta pode ser confusamente mais complexa (por exemplo, as plantas podem responder à baixa disponibilidade de nutrientes essenciais em vez de uma alta concentração de minerais tóxicos), o que torna esses indicadores não confiáveis.
No uso moderno, o conceito inclui a coleta e análise química de materiais vegetais ou camadas do solo, especialmente húmus, nos quais os íons metálicos podem se acumular. 
Sendo assim, a Geobotânica é apenas um guia usado em combinação com outros métodos, ou seja, é uma ajuda a mais.

Plantas indicadoras mais conhecidas da geobotânica
Na prospecção geobotânica, várias espécies de plantas são comumente usadas como indicadores de minerais ou elementos específicos. Observe na lista abaixo que a maioria destas plantas indicadoras estão associadas a minerais metálicos, por vezes não o mineral puro mas o minério nativo.

Aqui está uma lista de algumas plantas bem conhecidas usadas na prospecção geobotânica e os elementos aos quais estão associadas:

Plantas indicadoras de ouro
planta indicadora de ouro
Eriogonum inflatum (trombeta do deserto)
Esta planta (Desert trumpet) ajuda os garimpeiros norte americanos e encontrar ouro.

Eucalyptus spp. (espécie de eucalipto)
Essas árvores são conhecidas por acumular ouro em suas folhas e têm sido usadas como indicadores de mineralização de ouro.


Planta indicadora de cobre
Acalypha indica (folha de cobre indiana)
Esta espécie de planta tem alta afinidade pelo cobre e é frequentemente usada como indicadora da mineralização do cobre em áreas com densa cobertura vegetal nativa.

Planta indicadora de níquel
Geijera parviflora (salgueiro australiano)
Esta espécie de árvore acumula níquel em suas folhas e é usada como indicadora de depósitos de níquel.

Planta indicadora de zinco
Thlaspi caerulescens (alpine pennycress)
Esta planta é conhecida por acumular altas concentrações de zinco em seus tecidos e é comumente usada como um indicador de mineralização de zinco.

Planta indicadora de urânio
Agrostis stolonifera (creeping bentgrass)
Esta espécie de grama acumula urânio em seus tecidos e é usada como indicadora de depósitos de urânio.

Planta indicadora de chumbo
Robinia pseudoacacia (gafanhoto preto)
Esta espécie de árvore tem alta afinidade por chumbo e é frequentemente usada como indicadora de mineralização de chumbo.

Planta indicadora de prata
Astragalus bisulcatus (ervilhaca de dois sulcos)
Esta espécie de planta é conhecida por acumular prata em seus tecidos e pode ser usada como indicadora de mineralização de prata.

Planta indicadora de cromo
Brachypodium sylvaticum (falso bromo)
Esta espécie de grama acumula cromo e pode ser usada como indicadora de depósitos de cromo.


NOTA:
É importante observar que o uso de plantas indicadoras específicas pode variar dependendo do contexto geológico e do mineral alvo de interesse. Além disso, a seleção e utilização de plantas indicadoras devem ser feitas em conjunto com outros métodos de exploração para aumentar a precisão e confiabilidade dos resultados.

Além de que a prospecção geobotânica baseada em plantas do tipo indicadoras é válida, porém as plantas específicas estão microclimáticamente localizadas.
Em outras palavras, como exemplo; uma planta específica no leste da China é encontrada apenas naquele local e em nenhum outro lugar. É específico para um microclima local.
No entanto, como outro exemplo; uma planta de uma latitude específica (tanto ao norte quanto ao sul do equador) pode, na maioria dos casos, ser transplantada para todos os continentes na mesma latitude.
Então subentende-se que, tais indicativos só ocorrem quando as plantas são nativas do local.


Aprenda mais sobre isto nos links a seguir:
Plantas indicadoras de diamantes

A planta pode ajudar a encontrar diamantes

Insectos que podem ajudar a achar Ouro:


Fontes:

Plantas indicadoras de diamantes no Brasil

Plantas indicadores de diamantes no Brasil
Indicator Plants of Diamond Gems in Brazil

As plantas indicadoras são espécies adaptadas a determinados ambientes que podem ser utilizadas pelas populações humanas para a classificação destas paisagens de acordo com as suas caraterísticas ou potenciais usos. Entre estas plantas, algumas são utilizadas como indicadoras geobotânicas de minerais por estarem relacionadas à presença de determinados minerais ou propriedades do solo.
Este trabalho faz um levantamento de espécies consideradas indicadores de diamantes no Brasil.
A partir de ampla revisão de literatura foram identificadas cinco espécies vegetais relacionadas com a ocorrência de diamantes no país:
Babarcenia sp.,
Vellozia sp.,
Lageonocarpus adamantinus,
Schwartzia adamantium e
Norante guianensis.
Destas, três foram analisadas quanto as suas distribuições e comparadas com os locais com registro de ocorrência de diamantes no país.
Existe uma sobreposição entre as áreas onde estas plantas ocorrem e locais diamantíferos.
Assim é provável que as espécies de ocorrência mais restrita (L. adamantinus e S. adamantium) são melhores indicadoras ambientais para a ocorrência de diamantes.

Entretanto, com os dados obtidos neste trabalho de pesquisas, apenas a ocorrência destas plantas não é suficiente como indicador da presença de diamantes e são necessários outros estudos para a prospecção geológica de corpos kimberlíticos e de gemas de diamantes em fontes secundárias onde estas espécies ocorrem para confirmar esta correlação.
No Brasil além de corpos kimberlíticos o lamproíto é a principal fonte possível para o diamante aluvionar.

Conhece alguma destas plantas a seguir?
Fique atento a alguma delas quando for fazer uma sondagem mineral ou para diamantes.
Lagenocarpus Nees
Lagenocarpus Nees (Cyperaceae)

Schwartzia adamantium, planta indicadora de diamantes no brasil
Schwartzia adamantium (Marcgraviaceae)

Norantea guianensis Aubl., planta indicadora de diamante no brasil
Norantea guianensis Aubl. (Marcgraviaceae)

Saiba o nome popular delas logo mais abaixo neste artigo.

Evolução e adaptabilidade das plantas
As espécies vegetais evoluíram nos mais diversos tipos de ambiente, adaptando-se às características locais. Altitude, características do solo (como textura, disponibilidade hídrica, nutrientes e pH), atmosfera, pluviosidade, umidade relativa do ar, temperatura, polinizadores, dispersores, luminosidade e fotoperíodo podem ser alguns dos fatores limitantes ao desenvolvimento dos vegetais nestes diferentes ambientes. Modelos biogeográficos tentam explicar a distribuição de cada espécie em função destas diversas variáveis. Desta forma, a ocorrência de determinadas espécies pode estar associada a algumas destas características limitantes, fazendo destas plantas potenciais indicadoras da paisagem. Cabe, entretanto, ao ser humano aprender a observar e identificar tais espécies bioindicadoras de acordo com suas necessidades e especificidades.

Indicadores geobotânicos são plantas com ocorrência limitada, associada ou com diagnose foliar visual de toxidez ou deficiência de nutrientes, relacionadas a condições específicas das propriedades geológicas dos ecossistemas, como a presença e acúmulo de determinados elementos no solo, distribuição de rochas no terreno, profundidade e perfil do solo, presença de corpos de água subterrâneos, áreas halófitas, depósitos minerais, entre outros. Desde o século XVII, a espécie Silene suecica (Caryophyllaceae), conhecida como planta-pirita, é associada à ocorrência de minas de cobre na Escandinávia, o que atualmente compreende-se que ocorre devido a sua tolerância a níveis tóxicos neste minério. Na África, Ocimum centraliafricanum, conhecida localmente como copper plant, também é associada a áreas com cobre. Foram listadas cerca de 122 espécies indicadoras de reservas de minério (indicadoras geobotânicas) em todo o mundo e analisadas 85 espécies plantas consideradas indicadoras de diversos minerais (Al, Co, Cu, Au, Fe, Mg, Ni, Bo, Se, Ag, U, Zn), observa-se que, entre elas, as famílias Caryophyllaceae, Fabaceae e Lamiaceae são as mais frequentes.
No Brasil, é comum o uso de plantas ruderais como indicadoras da fertilidade do solo por agricultores. Entre os povos indígenas, os Kayapó classificam os diferentes tipos de ambientes que ocupam a partir da ocorrência de diferentes espécies de plantas indicadoras de paisagens. Recentemente, (2015) comprovou-se que a espécie Pandanus candelabrum (Pandanaceae) ocorre exclusivamente em áreas com afloramento de diamantes na África Ocidental (Libéria), conforme o conhecimento tradicional previa. Descobriu-se que sua ocorrência é restrita às localidades com afloramento de chaminés de kimberlito, uma formação geológica proveniente de rochas magmáticas sob alta temperatura e pressão e que ocasionalmente forma diamantes. Estes kimberlitos podem ser ricos em diferentes minerais, como mica, calcita, diopsídio e apatita, o que pode gerar um solo de composição e fertilidade especifica contribuindo para o estabelecimento de uma vegetação adaptada a estas condições ambientais. A associação entre P. candelabrum e as chaminés de kimberlito foi relacionada da seguinte forma: devido às formações tubulares encontradas no kimberlito ocorre um aumento da capacidade de retenção d’água, tornando-o mais argiloso do que os horizontes adjacentes; as raízes de P. candelabrum penetram nessas chaminés para se fixar; durante o crescimento de P. candelabrum as raízes absorvem seletivamente íons de Mg, K, P e diminuem a concentração de Fe; e durante o crescimento das raízes desta espécie ocorre a elevação de rochas ígneas (e.g. ilmenita: mineral de magnetismo fraco [FetiO3]) e eventualmente pequenos diamantes. Esta associação está auxiliando os governos dos países da África Ocidental na localização de depósitos de diamantes.
No Brasil, país com áreas de exploração de diamante conhecidas desde o século XVIII associado a uma atividade de mineração artesanal, tem-se registrado relatos sobre espécies vegetais relacionadas à ocorrência desta pedra preciosa. Entretanto, a falta de um levantamento sistemático das espécies vegetais relacionadas à ocorrência de diamantes no Brasil dificulta a produção de estudos que procurem confirmar esta correlação. Desta forma, este trabalho tem como objetivo realizar um levantamento das espécies de plantas relatadas como indicadoras de diamantes no Brasil a fim de fornecer subsídios para futuros estudos que relacionem as possíveis espécies candidatas com variáveis geológicas.

Material e métodos
As espécies vegetais indicadoras de diamantes no Brasil foram levantadas a partir de extensa revisão de literatura em livros, periódicos e teses. Foram utilizadas as seguintes bases de dados de literatura científica: Scopus (https://www.scopus.com), Google Scholar (http://scholar.google.com.br), Scielo: (http://www.scielo.org), Periódicos da capes (http://www.periodicos.capes.gov.br) para a combinação das palavras “diamantes”, “Brasil”, “plantas bioindicadoras”, “plantas geobotânica” e “plantas indicadoras”.
As espécies identificadas tiveram o seu nome atualizado de acordo com a APG IV na Flora do Brasil 2020 (2020) e trópicos (2019) e foram realizadas buscas especificas nas bases de dados já citadas com o nome válido e sinônimos para identificação de outros usos e descrição morfológica.

A distribuição e áreas de ocorrência destas espécies foram conferidas a partir das bases de dados do Herbário Virtual (INCT, 2020), CNCFlora (2018, 2020), trópicos (2019) e Flora do Brasil 2020 (2020) e comparado com regiões de ocorrência de diamantes no Brasil, a partir dos mapas e documentos elaborados pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM) e de outras fontes consultadas.

O resultado das pesquisas:
Ocorrência de diamantes no Brasil
O Brasil possui registros da exploração de diamantes desde o início do século XVIII, quando foram descobertos depósitos na região de Diamantina no estado de Minas Gerais. Até o século XIX o país figurava entre os maiores produtores mundiais, quando foram descobertas jazidas na África do Sul.
Ao longo dos séculos foram encontrados depósitos de diamante em diversas regiões do Brasil, desde o Sul do país na região do Rio Tibaji, no estado do Paraná; Itararé e Patrocínio Paulista em São Paulo; Alto Parnaíba e região Central de Minas Gerais; Aragarças e Piranhas em Goiás; Barra dos Garças, Chapada dos Guimarães, Aripuanã e Juína no Mato Grosso; Coxim no Mato Grosso do Sul; Chapada Diamantina na Bahia; Gilbués no Piauí; Imperatriz no Maranhão; Marabá no Pará; Oeste de Rondônia, além de localidades menores no Amapá e Roraima; com destaque para os estados de Minas Gerais, com 71% das reservas oficiais Brasileiras, e Mato Grosso com 85% da produção nacional.
O projeto Diamantes do Brasil, do Serviço Geológico do Brasil (CPRM), concluído em 2017, mapeou 804 ocorrências de diamantes, 142 garimpos, 42 campos e 1.344 corpos kimberlíticos no país.

Indicadores geobotânicos de diamantes no Brasil
Espécies vegetais indicadores de diamante no Brasil Segundo a literatura consultada, foram identificadas cinco espécies vegetais relacionadas pelas populações locais com áreas de ocorrência de diamantes no Brasil, duas pertencentes à família Velloziaceae (Babarcenia Vand. e Vellozia Vand.), uma pertencente à família Cyperaceae (Lagenocarpus adamantinus) e duas à família Marcgraviaceae (Schwartzia adamantium e Norantea guianensis).
As duas espécies de Velloziaceae, foram mencionadas por Spix e Martius (1824) e não foram analisadas quanto a sua distribuição, já que os autores não determinaram as espécies e há pelo menos 89 espécies destes gêneros que ocorrem na região de Diamantina descrita pelos autores.


Lagenocarpus adamantinus Nees
(Cyperaceae)
plantas indicadoras de diamantes no brasil
Lagenocarpus adamantinus Nees (Cyperaceae) no Brasil

Nome popular: capim-dos-diamantes, brilhante, capim-brilhante, capim-diamante, tiririca-dos-diamantes. Descrição e ocorrência: Erva terrícola ou rupícola, perene, de 70 cm a 1,1 m de altura, formando pequenas touceiras laxas, endêmica de campos rupestres do Cerrado no estado de Minas Gerais, com ocorrências registradas apenas na região de Diamantina e na Serra do Cipó.
Ocorre sobre afloramentos quártzicos como colonizadora primária.
local de ocorrência de diamantes em Minas Gerais
Lagenocarpus adamantinus Nees (Cyperaceae) em Minas Gerais

Por ocupar uma área restrita, é classificada como uma planta Vulnerável (VU).
É crença popular que vegeta de preferência nos terrenos diamantíferos do estado de Minas Gerais na região de Diamantina.

Schwartzia adamantium
(Marcgraviaceae)
Schwartzia adamantium (Cambess.) Bedell ex Gir.-Cañas (Marcgraviaceae) no Brasil
Schwartzia adamantium (Marcgraviaceae) no Brasil

Nome local: agarra-pé, mel-de-arara, pau-de-papagaio.
Descrição e ocorrência: É um arbusto ou pequena árvore de até quatro metros de altura, caule tortuoso, geralmente com raízes adventícias, subcaducifólia ou caducifólia, terrícola, folhas simples, alterno-espiraladas, subsésseis e glabras, nativa do Brasil e endêmica do Cerrado, com ocorrência em vegetação de campos rupestres, cerrado e florestas ciliares em terrenos rochosos a mais de 900 metros de altitude. Possui 212 registros de coletas no Brasil. Foi relatado que esta é uma espécie considerada indicadora de áreas com diamante na Chapada dos Veadeiros. Através de sua dispersão, é possível observar que ela ocorre em municípios da região da Chapada Diamantina, no estado da Bahia, Cristalina, Pirenópolis e Alto Paraíso, em Goiás e Diamantina em Minas Gerais, locais onde historicamente já foi realizada exploração de diamantes e cristais.

Norantea guianensis Aubl.
(Marcgraviaceae)
plantas indicadoras de diamantes no Brasil
Norantea guianensis Aubl. (Marcgraviaceae) no Brasil

Nome local: flor-de-papagaio, planta-dos-diamantes, parreira-da-pedra, rabo-de-arara.
Descrição e ocorrência: Arbustiva volúvel com ramos horizontais a decumbentes, emitindo raízes avermelhadas ao longo do caule, hemiepífita, folhas obovais com base cuneada e ápice retuso, inflorescência em racemos terminais multiflorais com ocorrência desde o Suriname até o Brasil Central e Bolívia, com maior frequência na região amazônica, além de Caatinga e Cerrado em vegetação de campos rupestres, floresta ciliar, floresta de terra firme, savana amazônica e áreas de canga aberta (afloramento ferrífero).
É uma espécie com ampla distribuição no Brasil e 446 coletas registradas. Dizem que ela vegeta em terras áridas, às vezes diamantíferas, e por isso, o povo considera-a indicadora, sobretudo na Chapada dos Veadeiros. Entretanto, observamos que sua distribuição é muito mais ampla do que as áreas diamantíferas, ao comparar com as áreas com registro de ocorrência de diamantes no Brasil.



Discussão:
Nenhumas das três espécies estudadas haviam sido citadas nos trabalhos mais completos relacionados anteriormente e tampouco pertencem às famílias mais frequentes (Lamiaceae, Fabaceae, Caryophyllaceae) apontadas por Brooks (1979) como geoindicadoras. As Velloziaceae (Barbacenia sp. e Vellozia sp.) relatadas por Spix e Martius (1824) também não haviam sido consideradas nestes trabalhos. Os nomes científicos (válidos e sinônimos) das espécies podem carregar diversos significados atribuídos por seus autores.
L. adamantinus e S. adamantium têm epíteto específico referente a diamante, que poderia ser relacionado tanto a região onde são encontradas (Diamantina na Serra do Espinhaço, estado de Minas Gerais) ou a sua relação com a ocorrência de diamante.
Em pesquisa na Flora do Brasil 2020 (2020), é possível encontrar outras espécies vegetais nativas do Brasil com epíteto semelhante (Camponanesia adamantium, Croton adamantinus, Hyptis adamantium, Koanophyllon adamantium, Lavoisiera adamantium, Lepidaploa adamantium e Senecio adamantinus), todas com coletas significativas na região de Diamantina, sendo que destas C. adamantinus e S. adamantinus possuem apenas um registro de coleta cada, ambos na região de Diamantina. Enquanto L. adamantinus tem distribuição mais restrita, ocorrendo apenas em uma pequena extensão de área onda há registro de ocorrência de diamantes, S. adamantium tem distribuição mais ampla, mas também sobreposta a regiões diamantíferas. Norantea guianesnsis, entretanto, tem a distribuição mais ampla, com registros em outras regiões do país não diamantíferas.
A distribuição mais restrita de algumas espécies pode ser um bom indicativo daquelas com maior potencial de indicador geobotânico, uma vez que essa distribuição restrita pode estar relacionada com variáveis geológicas locais.

Morfologicamente, nenhuma das três espécies possui raízes escoras ou superficiais como P. candelabrum, que Haggerty (2015) relaciona com o soerguimento de gemas de diamante da superfície do solo. Além dos fatores ambientais e ecológicos, outras questões podem estar envolvidas com a distribuição destas plantas, como o seu manejo e outras atividades antrópicas conforme sugerem Levis et al. (2017) para espécies arbóreas hiperdominantes na região amazônica, e Baléé (1989, 2013) para formações florestais amazônicas. Entretanto, não foram encontrados registros de uso por populações humanas para as três espécies estudadas nas referências consultadas, ainda que as plantas da família Marckgravariaceae (N. guianensis e S. adamatinum) tenham grande potencial ornamental, podendo, por isso, eventualmente ser cultivadas ou manejadas de alguma forma.
É interessante observar que no Brasil a exploração de diamantes foi feita historicamente de forma artesanal em fontes secundárias, na superfície do solo ou em aluvião (mineração em rios), de modo que a maior parte das pedras garimpadas é proveniente de rochas desgastadas e podem ter sido arrastadas por longa distância da rocha matriz e, desta forma, o relato de garimpo de diamantes em determinada região no Brasil pode não ser necessariamente um indicativo da existência de chaminés de kimberlito e outros minerais associados na área.
É possível que outros indicadores geológicos sejam utilizados por garimpeiros para a identificação de áreas com diamantes como a ocorrência de cascalhos diamantíferos. Esta hipótese pode ser válida e deve ser testada em outros estudos, pois no garimpo se dedica a maior parte do tempo analisando justamente as rochas.
Diferentes tipos de cascalho são associados à presença de gemas, usualmente com nomes relacionados a sua forma, como feijão, figo/fígado-de-galinha, chiclete mascado e amendoim, ou a sua composição como quartzo, ferragem, cristal e hematita. A etnopedologia, área das etnociências que estuda a relação entre sociedades e solos, pode contribuir com este trabalho a partir da identificação dos diferentes tipos de solo e rochas e seus potenciais de uso pelas populações locais.

 Uma comparação realizada entre as áreas de ocorrência das plantas estudadas na áfrica e das áreas com registro de diamantes no Brasil, este estudo possui limitações quanto à precisão dos dados geográficos utilizados. O garimpo de diamantes ocorre em locais restritos e não em toda a extensão dos municípios listados pelo Serviço Geológico do Brasil (CPRM), e pela escala do mapa disponibilizado e utilizado é impossível precisar os pontos exatos onde foram realizados estes registros de diamantes para aproximar dos locais onde as plantas foram coletadas, sendo que as chaminés de kimberlito possuem no máximo poucas centenas de largura. Ao mesmo tempo não são todas as plantas coletadas, registradas e utilizadas neste trabalho que possuem localização precisa de sua ocorrência, podendo ter sua localização ajustada para a sede do município na ausência desta informação, dificultando a elaboração de mapas mais precisos. Também é necessário reconhecer que o mapa do CPRM utilizado indica apenas os locais onde já há a ocorrência de diamantes confirmada e não outros locais onde também poderiam ocorrer. Para o aprimoramento da discussão deste trabalho seria interessante entrevistar garimpeiros na região de ocorrência destas plantas e em locais tradicionais de garimpo. Entretanto, tanto a caracterização da atividade do garimpo artesanal como ilegal quanto à discrição do garimpeiro com o local do garimpo ou das técnicas desenvolvidas para evitar possíveis concorrentes, dificultariam esta abordagem.


Conclusões:
Foram encontradas cinco espécies vegetais nativas do Brasil relacionadas à ocorrência de diamantes no país nas referências consultadas, das quais apenas três foram identificadas até espécie. Apesar da distribuição destas três plantas sobreporem áreas diamantíferas, não é possível afirmar que apenas sua ocorrência é suficiente como indicadora de áreas diamantíferas e seriam necessários estudos de campo para confirmar esta correlação. É provável que as espécies de distribuição mais restrita sejam melhores indicadoras geobotânicas do que aquelas de ampla distribuição. Trabalhos de biogeografia a partir de um maior número de amostras coletadas, mais variáveis ambientais analisadas, associada a estudos de prospecção de minerais no Brasil devem contribuir no futuro para esta discussão.


Outras fontes:
Pandanus candelabrum a planta que ajuda a encontrar Diamantes

Plantas indicadoras de Ouro:

Como cupins e formigas ajudam a encontrar ouro:

Plantas, animais e insetos indicadores de ouro:


Fonte e autor:

Autores:
Bernardo TOMCHINSKY, Felipe Fernando da Silva SIQUEIRA

Link para o artigo:


Projeto Diamante Brasil:


PALAVRAS-CHAVE:
etnoecologia, etnopedologia, indicador geobotânico, conhecimento tradicional